Unir a tradição e a inovação, fazendo-as chegar à porta de cada um dos portugueses, tem sido o desígnio da Xicos, a app de delivery 100% portuguesa. Uma oferta que nasce no interior do País respondendo a uma lacuna neste mercado e que não pára de espalhar xicos e xicas por todo o território.
Se vive num dos grandes centros urbanos portugueses e não é avesso à tecnologia, é pouco provável que nunca tenha usado aplicações de entregas como a Uber Eats, Glovo e Bolt Food. Mas já experimentou fazê-lo quando vai para um Airbnb no interior ou em cidades de menor dimensão?
Percebendo que as grandes plataformas não estavam a abranger determinadas zonas geográficas, a aplicação 100% portuguesa Xicos nascia há cerca de três anos, no pós-pandemia, com um delivery que tem vindo fortemente a moldar-nos. «Portugal não é só os grandes cidades. Por estarmos nas localidades menores percebemos que havia essa necessidade», conta em conversa com a Marketeer Nuno Mendes, CEO da Xicos Delivery, lembrando que a Xicos começou a actuar precisamente em áreas como Beira Baixa, na zona da Covilhã, Castelo Branco e Fundão.
De lá para cá, com as suas especificidades, a Xicos foi crescendo, estando actualmente presente em 20 concelhos e prevendo até ao final do ano chegar a 32, incluindo Figueira da Foz, Leiria, Alcobaça e Pombal. «Temos a nossa expansão para este ano bem delineada.»
A entrada em Lisboa e no Porto (ou em mercados internacionais, com Espanha à cabeça pela facilidade do nome) não é uma prioridade para já. «Neste momento, o nosso objectivo é trazer algumas marcas, nomeadamente, a McDonald’s e outro tipo de cadeias, para a Xicos. Não só porque têm todo o interesse para nós, em termos de expansão e de consolidação da marca, mas porque temos pedidos em algumas zonas dos próprios franchisados (que estão com dificuldades em fazer entregas em determinadas zonas)», comenta o CEO. Recordando que já fazem entregas de marcas com alguma representação nacional, como a Domino’s e a Telepizza, Nuno Mendes é de opinião que, com o crescimento que tiveram nos meses mais recentes, estão mais do que prontos para receber a McDonald’s e outras marcas fora das grandes cidades.
E na Xicos a regra é que qualquer marca faz sentido. «Somos inclusivos. Temos roulotes e tasquinhas pitorescas que representam também um bocadinho da nossa portugalidade», acrescenta. O objectivo da Xicos é ser a love brand portuguesa na área do delivery. «A marca foi e é pensada para os portugueses, para a nossa portugalidade, a nossa forma de viver. Temos essa vantagem em relação às outras plataformas: ninguém conhece melhor Portugal do que nós próprios. Conhecemos muito bem o terreno e, já com três anos de experiência, cada vez conhecemos melhor. É cada vez mais fácil lidar com tantas diferenças que o nosso País tem e que às vezes são desconhecidas por tanta gente.»
MANTER A OPERAÇÃO FORA DOS GRANDES CENTROS
Apesar de a empresa estar sediada em Oeiras, o contact center disponível 24/7 (que faz a ligação aos clientes e aos restaurantes) está na Lousã, ou seja, no meio dos sítios geográficos onde está a operação. «Temos espaço, portanto irá continuar por lá.»
Aliás, manter a operação fora dos grandes centros urbanos é fundamental para a Xicos. «Tínhamos que nos distinguir das outras plataformas de várias formas. Percebemos que havia uma grande dificuldade das pessoas que não têm grande literacia digital (acontece no interior do País, mas também nas grandes cidades) e que eram quase abandonadas e ostracizadas pelas outras plataformas. Compreendemos que havia aí uma oportunidade de trazer essas pessoas para o mercado do delivery, recebendo os seus pedidos de restaurantes, de farmácias, supermercados, frutarias, floristas ou outros», conta Nuno Mendes. O responsável salienta que o que fizeram de diferente foi a humanização do serviço. Ou seja, uma pessoa que não tenha acesso à aplicação tem a possibilidade de aceder ao serviço através do telefone. «Daí a nossa central telefónica, que está sempre aberta com xicos e xicas (nome dado a todos os colaboradores da Xicos) prontos para ajudar em algum problema que exista durante a entrega, mas fundamentalmente para as pessoas que não têm a possibilidade de fazer digitalmente.»
Ainda que a percentagem tenha vindo a diminuir, há muita gente que faz as encomendas por telefone. «Ligam todos os dias para a nossa central telefónica e fazem o pedido pelo telefone, e nós temos a plataforma preparada para inserir no sistema», explica. E desengane-se quem pensa que não são números relevantes. É que nos últimos dados analisados pela Xicos há ainda 10 a 15% de encomendas feitas pelo telefone.
Aliás, há pessoas que fazem encomendas todos os dias, sendo os menus do dia introduzidos diariamente às 11 da manhã, uma hora antes de os restaurantes abrirem. Daí que a versão 2.0 da app do utilizador (a ser lançada este mês) tenha uma nova funcionalidade – de uma necessidade que foi percebida – que permite planear a semana toda. «Há utilizadores que gostam de escolher tudo o que vão comer ao longo da semana, pagar e ficar tratado para a cada dia receberem em casa o pedido.»
Uma entrega que será feita por um dos cerca de 200 estafetas (20% dos quais são mulheres, sentindo-se uma tendência de crescimento). Todos passam por uma entrevista pessoal antes de integrarem a Xicos. Neste momento, a nacionalidade portuguesa ainda está em maioria entre os estafetas. «Temos também muitos brasileiros, porque a comunidade está a crescer em muitas zonas no interior do País, nos últimos seis meses. É uma comunidade com a qual estamos já muito habituados a lidar.» Aos xicos estafetas somam-se seis xicos nos escritórios de Oeiras e 12 no contact center.
A resistência no acesso à tecnologia não é exclusiva dos clientes. Também acontece em alguns restaurantes (e outros estabelecimentos) aos quais é preciso fazer os pedidos por telefone. Isso implicou um investimento significativo na central telefónica – que tem seis pessoas em permanência –, mas esse é uma vantagem competitiva da qual a Xicos não tenciona abdicar. O CEO explica porque: «Em muitas destas zonas mais pequenas, nos restaurantes mais tradicionais e familiares, colocar dois ou três mil euros de negócio por semana. É uma experiência económica importante. Ajudamos a economia destes sítios um pouco mais pequenos.»
Por isto, também, é que procuram formar e evangelizar os parceiros para as tecnologias. «Temos um tablet onde o comerciante pode receber e gerir, não só os pedidos, mas perceber o que é que é vendido naquele mês, quanto é que vai receber e também toda a informação de que precisa. Em algumas zonas, os comerciantes tinham que ver onde estava o tablet, mas tentamos sempre explicar o funcionamento, demonstrando a simplicidade. E a taxa que acaba por aderir ao digital é enorme. Quando sentem a segurança da humanização é muito mais fácil saírem da zona de conforto e aderirem», sublinha Nuno Mendes. Resultado: 30% dos parceiros Xicos são-no em exclusividade, não por lhes ser exigido, mas porque consideram «que as outras plataformas são complicadas, deixando-os inseguros.»
Assumindo-se como ambicioso, por natureza, Nuno Mendes perspectiva para a Xicos, este ano, pelo menos duplicar o volume de negócios de 2024, que se cifrou em 2 milhões de euros (o que correspondem a um crescimento de 87% no número de encomendas e a um aumento de 84% no volume de negócios face ao ano anterior). E explica: «A empresa, a nível de logística e tecnológico, está toda oleada a abrir zonas, a contratar restaurantes, a estabelecer parcerias, que é altura de aproveitarmos, tentarmos chegar a duas ou três marcas grandes e darmos um pulo gigante. Não vamos duplicar em termos geográficos, mas acho que a facturação, no mínimo, tem que duplicar. Ou seja, chegar aos 4 milhões no ano de 2025.»
Marketeer – Maria João Abreu